O tingimento natural é a primeira forma de se colorir na história de toda humanidade, existindo há pelo menos seis mil anos. Trata-se de uma técnica artesanal, onde se modificam as cores primárias das fibras naturais, como algodão, linho, cânhamo e seda, utilizando materiais orgânicos, sendo eles minerais, vegetais ou animais.  
 

A prática se mantém pela resistência de comunidades tradicionais, que passam seu saber cultural pela oralidade de geração em geração. É um processo muito bonito, que além de reacender técnicas culturais e evitar o uso de materiais poluentes, está profundamente ligado à história do Brasil, nome dado ao nosso país por conta da espécie tintória pau-brasil (caesalpinia), que ocorria em abundância em toda Mata Atlântica e quase foi extinta. 
 

Para realizar o tingimento natural de forma sólida são necessários, pelo menos, quatro processos principais: a limpeza, a proteção, a coloração das fibras e a fixação da cor. É um fazer que pede presença, calma, conhecimento e, principalmente, respeito às matérias-primas. Deste modo, nos colocamos a explorar de forma benéfica e consciente a biodiversidade local e mergulhar na grandiosidade do fazer artesanal, que além de ser único, levando em consideração que cada elemento tintório sazonal, também é vivo e se regenera.
 

Antes da era industrial, os tecidos eram tingidos apenas com essa técnica milenar e artesanal, porém, com o aumento da produção têxtil, houve a substituição por formas mais céleres de se tingir e sintéticas, que, infelizmente, são extremamente agressivas ao meio ambiente, responsável por 20% da contaminação das águas em todo o mundo e afetam diretamente a saúde dos trabalhadores e consumidores desse mercado poluidor. 
 

Assim, o uso de peças tingidas naturalmente incentiva o consumo de produções que não afetam os trabalhadores, movimenta redes locais pela troca de saberes e ainda, permite que àquele que se veste de uma peça naturalmente tingida tenha sua pele transpirando em uma fibra natural e seja cuidado, visto em sua grande maioria as espécies tintórias são medicinais que ficam diretamente em contato com a pele. 
 

É gigante para a Casca esse fazer, em especial, por sermos uma marca brasileiríssima, com a honra de sermos filhas da maior biodiversidade do mundo. Aqui, aprendemos que o tempo transforma e que cada passo deve ser dado com presença, um de cada vez, em cada etapa desse fazer colorido e trançado de cultura e fibras naturais. Isso é o arte no nosso Brasil, que se basta por toda sua grandeza de terra indigena e de árvores vermelhas. 
 

Há um futuro ancestral para o novo tempo da moda.